Becos de Goiás

Becos da minha terra...
Amo tua paisagem triste, ausente e suja.
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.
E a réstia de sol que ao meio-dia desce fugidia,
e semeias polmes dourados no teu lixo pobre,
calçando de ouro a sandália velha, jogada no monturo.

Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,
Descendo de quintais escusos sem pressa,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.
Amo a avenca delicada que renasce
Na frincha de teus muros empenados,
e a plantinha desvalida de caule mole
que se defende, viceja e floresce
no agasalho de tua sombra úmida e calada

(Cora Coralina)

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A todas as vozes que desaprenderam preces, ou mesmo que jamais aprenderam. A todas as solidões individuais ou compartilhadas, gritadas, colhidas ou caladas, nos corações e nas almas.

A todas as buscas que levaram a encontros, perdas ou abandonos. A todos os silêncios de gestos e palavras que encobriram impossibilidade, refúgios, medos ou ausências. E, principalmente, àqueles que disseram mais do que palavras.

A todos os braços e abraços que acolheram, aqueceram e ampararam, nos momentos em que a perda já parecia certa e o abandono das forças de luta era aparentemente a única possibilidade de resposta.

Aos sorrisos esboçados ou assumidos que coloriram os rostos e enfeitaram o mundo. A todas as crianças crescidas e pequenas que viveram momentos de descoberta e não morreram para o aprender.

A todo o Amor que nasceu e morreu, mas que teve seu espaço de cor, força e brilho nas faces, corações e corpos. A todas as músicas e versos que os artistas, ou não, exprimiram com suas emoções e nos ajudaram a compreender e comunicar melhor as nossas.

A toda voz ou carícia que não se negou, que ouviu o apelo e respondeu com sua existência, sua expressão sua proximidade. A todas as orações desesperadas, suplicantes ou agradecidas. A todos os becos sem saída que deram em novos caminhos e em outras possibilidades.

A todos os desesperados que tiveram a grandeza de pedir ajuda e dar a enorme descoberta de serem conhecidos na partilha e no calor de um olhar, talvez perplexo, mas acolhedor.

A toda a vida que se omitiu ou ousou, que se transformou ou paralisou no tempo do medo. A todo o medo que a coragem permitiu viver, e que a força não deixou que imobilizasse o gesto, e levou aos passos mais adiante e aos caminhos mais além de antes do ontem.

A todos aqueles que, disponíveis para o novo, o invasivo, o ensaio, percorreram com seus olhos linhas como estas somando às nossas, as suas vivências, indagações e descobertas e fazendo com isso que amontoados de palavras se vestissem de significados, dedico esta mensagem como uma liberdade de aproximação, e um enorme desejo de que a busca de cada um não cesse nunca, seja ela qual for, por mais que mudem as respostas ou que às vezes, nos desanime a ausência delas. Um brinde aos encontros, que neste espaço de vida, puderam acontecer!

Tento definir essa sensação de impotência, essa fraqueza que abala minha mente já doente e sozinha. Tentei encontrar-me nos olhares de quem estava ao meu lado, tentei me sustentar nos sonhos que ouvi, tentei encontrar forças aonde não mais havia.

Caminhando sozinha percebi quantos sonhos abri mão, quantas vezes passei por cima de mim para que outro alguém sorrisse de corpo e alma e iluminasse o mundo por aí, de quantas pessoas conheci e apaixonada deixei voar pra longe de mim; encontrei a escuridão e o vazio de persistir e acreditar que conseguiria caminhar sozinha, quando na verdade até mesmo o maior dos tolos sabia que sozinha, nem uma alma é capaz de vagar sem se lesar pelas quinas da estrada.

Cai em becos sem saída, caí em vertigens e alucinações, caí sem forças pra levantar me apoiando em ter que continuar não por mim, mas por aqueles que estavam à minha volta. Hoje percebo que ali, esqueci de mim, esqueci de viver pra mim, esqueci que precisava de mim para continuar a seguir. Ali percebi que já não suportava mais a solidão, não queria mais esse caminho de escuridão, talvez ali também, percebi que era tarde demais

Olhei ao meu redor, no chão havia sangue e estilhaços espalhados do que um dia foram meus sonhos, minha esperança, minha força; encontrei fotos rasgadas de pessoas que deixei passar, de pessoas que saíram do meu caminho sem cogitar; havia folhas espalhadas da minha história esmaecidas irrecuperáveis; em um canto, havia amor, esquecido, largado, jogado como algo sem valor e por toda extensão havia medo, fúria, dor, lágrimas Tá um caos, tudo se tornou um caos, vozes sumiram, sorrisos se tornaram lembranças doces, presenças se espatifaram com o vento e a escuridão veio tomar conta de uma morada que não era dela.

Pode ter sido só um erro, talvez o erro foi abrir mão do primeiro sonho e desencadear sucessivas desistências; talvez tenha sido encontrar conforto na escuridão e no silêncio, como se de silêncios fizessem um mundo bom; talvez foi ter deixado passar por cima de mim, colocando a vontade dos outros melhores ou mais urgentes que as minhas vontades, ter aberto mão de sorrir para ver os outros sorrirem, ou talvez é ter feito tudo na esperança de um dia todo o feito voltar pra mim como uma avalanche de boas energias. Talvez o erro não tenha sido desistir, tenha sido ser incapaz, impotente, incoerente quando necessitava só um pouquinho de garra e vontade; talvez nem tenha tido erro, mas o medo tenha tomado conta do que um dia fazia toda a história ter sentido

Talvez ninguém sinta que há necessidade de sentido, ou talvez o sentido esteja nos motivos, e os motivos são tantos que nem cogitem percebê-los, só sabem que são eles que dão toda a coerência em viver, dão todo o brilho em querer seguir cada vez mais E talvez seja esse querer, e esse motivo que não fazem mais parte do que hoje sou talvez não seja meu sorriso que faça falta, mas o sorriso de alguém ao olhar pra mim, talvez também nem tenha mais importância, se a importância de existir já sucumbiu em mim.

(Devaneadora)